sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Como antigamente

“Olha só, como antigamente!” foi essa a expressão da turista, por mim ciceroneada, quando circulando pelo Recife, há poucos dias. Referia-se ao ver, em plena Avenida Rui Barbosa, no nobre bairro das Graças, do Recfe, uma carroça pilotada por um popular e movida por tração animal. Concordei. Como antigamente, mesmo. Essa cena já não se vê nas grandes cidades brasileiras. Coisa do passado. Por aqui essa situação vem sendo um problema delicado e de difícil solução. Boa parcela consciente da sociedade, poderes públicos municipais e Sociedade Protetora dos Animais vêm lutando no intuito de coibir esse tipo de exploração e maltrato animal. Existe, até mesmo, uma legislação própria com vistas à extinção desse antigo e renitente meio de transporte. Os praticantes resistem e se manifestam em revoltas com a coibição, alegando ser esse o único meio de sustento e a, consequente, falta de colocação no mercado de trabalho. Acredito, também, que por falta de outra habilidade ou pelas tradicionais e populares demandas, particularmente nos subúrbios da cidade. É bem comum avistar carroceiros fazendo entregas de materiais de construção ou recolhendo descartes de papéis e papelões, entre outros materiais, destinados a processadoras desses materiais. Os carroceiros do Recife vêm protestando, através de manifestações e bloqueios de vias importantes, contra a proibição definitiva da tração animal na cidade, prevista para 31 de janeiro de 2026. Outra dia, vi-me prejudicado na agenda pessoal devido a um desses movimentos em plena avenida Agamenon Magalhães, talvez a mais importante da cidade. A Prefeitura do Recife está se preparando para implementar o que se denomina de Programa Gradual de Retirada de Animais, visando proteger os animais e oferecer alternativas de reinserção profissional no mercado de trabalho, além de apoio financeiro, através de indenizações, capacitação e encaminhamento para novas vagas de trabalho.tudo com base numa Lei Municipal de 2013. (Lei 17.918/20113). Para tanto a Prefeitura já realizou um censo no qual cadastrou carroceiros, aplicando um microchip nos animais e um adesivo identificador nas carroças a serem incluídos no Programa. Nem todos foram listados. A ideia é de indenizar os carroceiros elegíveis pela entrega voluntária dos animais e das carroças, seguido de uma capacitação profissional e busca para novas fontes de sustento. Prometem vagas nas equipes da limpeza urbana ou encaminhamento para empreendedorismo. Porém, em se tratando, no final das contas, de um Programa com forte caráter politico e, ainda por cima, se tratando de um ano de eleições, paira entre os carroceiros uma pesada nuvem de dúvidas. O que está em jogo é a sobrevivência de uma categoria social enraizada nessa prática – de pai para filho - hoje inaceitável. O futuro dessa gente promete muitas emoções nas humildes franjas suburbanas da capital. Segundo pude tomar conhecimento há promessas de muitas revoltas e novas manifestações. Há pretensão coletiva da classe de obter uma prorrogação dessa proibição. Aourei que esse problema não se restringe ao Recife. Outras grandes capitais já lutam ou lutaram com esse tipo de proibição. Belo Horizonte e Cuiabá, entre essas. Numa visita à Goiânia (GO), ano passado, notei que catadores de papel e papelão usavam carroças, na verdade carretas, puxadas por veículos a motor. Um progresso digno de aplausos. Não tenho certeza se tratar da substituição definitiva da tradicional carroça puxada a tração animal. Contudo chamou-me atenção.
Por aqui a Sociedade Protetora dos Animais se posiciona, naturalmente, a favor da proibição e justifica suas teses com os relatos de maltratos dos animais, chicoteados sem dó, com rebenques, e, sobretudo, mal alimentados. Isto, aliás, devido às precárias condições financeiras dos chamados tutores desses animais. Recordo haver visto, muitas vezes, animais soltos nas baixas, beiras de canais e várzeas dos arredores da cidade buscando se alimentar de capim. Podem até se fartar mas, será esse o tipo de alimento conveniente para esses animais trabalhadores e barbaramente explorados? Esperemos ver o que acontecerá. NOTA: Foto Ilustração obtida no Google Imagens.

domingo, 14 de setembro de 2025

Abandono Doloroso

Uma das coisas mais prazerosas que sinto é, visitando uma cidade ou um país, notar os cuidados e preservações dos patrimônios histórico-culturais locais. Este é um assunto recorrente, aqui no Blog do GB. Vez por outra, me sinto na condição obrigatória de denunciar os desmandos que observo aqui por perto e no restante do Brasil. Quem sabe, num futuro... Esses dias tocou-me a oportunidade de visitar Olinda ciceroneando familiares em visita a Pernambuco e não pude deixar de notar o quanto o nosso Sitio Histórico (Monumento da Humanidade - UNESCO) carece de maiores cuidados, da limpeza urbana em geral à preservação dos seus monumentos. Percebe-se que a alta frequência de turistas, nacionais e estrangeiros, ávidos por descobrir traços originais da História da Região e, obviamente, do próprio Brasil terminam por produzir detritos, muito dos quais, abandonados nas vias públicas e recantos inapropriados. Devido claramente por falta de educação ou, acredito, por falta de coletores de lixos estrategicamente postos e ao fácil alcance dos visitantes. Presumo que a municipalidade se revela incapaz de administrar, seja por pura incompetência ou pela provável incapacidade financeira. O curioso é que não vi um porvidencial gari por onde andei. Claro que a situação pode ser agravada pela falta de atitudes mais civilizadas do público visitante, agravada pela visível ignorância do pessoal local, interessado, apenas, com o faturar nos seus negócios. Ambulantes, tapioqueiras, flanelinhas, pipoqueiros, entre outros, fazem a “festa” sem se preocupar com o meio ambiente que ocupa. Há cantinhos, digamos mais recônditos, que servem descaradamente de mictório, exalando constantemente o desagradável odor pelas redondezas. É um abandono doloroso. Não posso esquecer que, ao circular por certas vias, um dos meus convidados, observando moradores, nas calçadas de suas residências, exclamou assustado, “é curioso ver que tem gente que mora nessa bagunça!”. Doeu-me até a alma. Fiquei mudo e emendei com um comentário elogioso sobre o primeiro beco que surgiu. E pensar o quanto é difícil viver num país em que atirar lixos em via pública e urinar nos bequinhos mais reservados não gera qualquer tipo de penalidade, a situação fica realmente impraticável. Lugares, como Cingapura que multa em milhares de Dólares o cidadão que come na rua ou que suja a via publica, bem poderia servir de exemplo. Talvez até funcionasse, já que aplicar multas se constitui esporte favorito de muitos agentes oficiais. Complicado. Passados poucos dias tocou-me receber e orientar visitantes oriundos do Rio Grande do Sul, sedentos por conhecer o Recife e Olinda. Claro que tratei de dar as melhores informações, tanto históricas, quanto contemporâneas. Acredito que contribui. Contudo, pensado nesses, estive, neste domingo, circulando no centro do Recife, indo à missa na Igreja da Conceição dos Militares. Trata-se de um dos templos históricos mais bonitos da cidade e recentemente restaurado. (Vide foto a seguir). A beleza é de tal grandeza que os mais conhecedores do assunto não cansam de afirmar que se trata da Capela Sistina de Pernambuco. O templo data de 1726. Ou seja, completará 300 anos no próximo ano. Formidável.
Localizado numa das ruas mais antigas da cidade, a Rua Nova (antiga Rua Nova de Santo Antônio, no século XVIII, Rua Barão da Victória, em 1870 e Rua João Pessoa, em 1930. Sem que esses nomes pegassem na população, voltou a se chamar simplesmente de Rua Nova em 1937) se constitui num ponto fora da curva do ambiente deteriorado da capital pernambucana. Uma maldade ver aquela tradicional artéria tão abandonada. Lamentavelmente, os grandes centros urbanos, as capitais brasileiras, estão todos abandonados dolorosamente. É um verdadeiro crime o que se comete com nossa historia urbana. Saindo da Igreja da Conceição e caminhando nas redondezas, onde antes a cidade fervia de lojas elegantes e casas de chá frequentadas pela alta sociedade, deparei-me com verdadeiras perversidades contra o patrimônio cultural da cidade. É assustador, por exemplo, ver o fantástico mural frontal do edifício que abrigava o antigo e elegante Magazine A Primavera, da autoria do renomado artista pernambucano Francisco Brennand, emporcalhado por inomináveis pichadores que perambulam pelas madrugadas da cidade Maurícia acabando com o há de belo para se mostrar aos visitantes e para ilustração das nossas melhores amostras culturais. Vide foto a seguir.
Para concluir cabe, então, uma pergunta que não cala: até quando viveremos tantos desmando e tanta ignorância ambulante? O velho Recife – a Capital mais antiga do Brasil – prestes a completar 500 anos vive um doloroso abandono. Abram os olhos senhores administradores da Urbe!

sábado, 6 de setembro de 2025

Labaredos na Corte

O cidadão honesto, cumpridor das suas obrigações cívicas, precisa ter paciência e sangue frio para se postar à margem dos processos que rolam no Planalto Central. O risco de se queimar é constante porque a Corte pode pegar fogo a todo o momento. É esta a sensação que percebo muitas vezes. A semana que hoje termina, por exemplo, exigiu-me permanente atenção com as encenações esdruxulas constatadas na Praça dos Três Poderes. Como se não bastasse o julgamento da chamada Trama Golpista, no STF, fiquei pasmo ao tomar conhecimento de alguns fatos absurdos e inacreditáveis. Imagine que, nas caladas da noite de terça-feira passada, o Senado, aproveitando certamente as atenções voltadas ao julgamento da Primeira Turma do Supremo, teve a ousadia de mexer e modificar uma das maiores conquistas institucionais brasileiras, a Lei da Ficha Limpa, fruto de uma vitoriosa proposta popular. Relembrando, para quem não se lembra, ou nunca prestou a atenção, falo da Lei Complementar No. 64/1990, cujo objetivo foi elevar a moralidade e probidade administrativa impedindo que pessoas condenadas gravemente usem do voto popular para escapar das punições legais ou visando se manter no poder. Pois bem! Na noite de 02 de setembro de 2025 (esta semana!) o Senado aprovou o Projeto de Lei 192/2023 (já enviado à sanção presidencial). Isto, quer dizer que, o que estava garantindo a decência e a honestidade às nossas instituições representativas e executivas foi para o beleléo! Uma atitude, dos nossos representantes, que representa um vergonhoso retrocesso institucional. Por essas horas, tem desonesto e portador de ficha s, haja voiuja, vibrando e já preparando campanhas tranquilas no futuro próximo. Essa coisa indecente pode bem ter tomado como modelo a recente vitória de Donald Trump para presidente dos Estados Unidos. Com várias e claras condenações e uma ficha sujíssima tornou-se presidente mais uma vez e os resultados estão aí. Outra surpresa da semana, e ameaça de incêndio no Planalto Central, foi a retomada das discussões parlamentares visando à revogação ou redução da Autonomia do Banco Central do Brasil, conforme PLP 19/23, do Psol. Pior, ainda, que na mesma esteira, o Centrão levanta uma bandeira que questiona a estabilidade dos diretores do Banco. As propostas e ideias põem em risco outra conquista nacional que não suporta um retrocesso desse nível. Imagine o BC ser transformado numa Autarquia diretamente subordinada ao Presidente da Republica. Que perigo! Pense numa tentação dessas! Taxa de juros e controle da inflação ao bel prazer do plantonista. E, para fechar a semana com “chave de ouro”, lembro que a crescente movimentação no Congresso, para colocação em pauta a discussão acirrada, do Projeto de Anistia aos julgados culpados no âmbito da Trama Golpista. Haja emoção. Do meu posto de observador fico “roendo unhas”. Sinal da possibilidade de incêndio resulta do avanço rápido do entusiasmo das bancadas opositoras e um Governo, pressentindo reais abalos, decidindo pela liberação de 2,2 Bilhões de Reais para despejar via cobiçadas emendas PIX. Comprando votos favoráveis, claro. É uma vergonha fazer politica dessa forma. Nesse clima de eventuais “incêndios” fico imaginando do que servirá esse esforço e, vamos e venhamos, essas cenas apaixonantes e desgastantes do julgamento da tal Trama Golpista. No final das contas, coisa corre riscos de em nada resultar. É uma Corte em ebulição a toda hora. Isso sem falar de outro possível foco de incêndio que é a evolução da CPMI do INSS. Sinto desgosto e desespero diante desse quadro de futuro confuso e inseguro. NOTA: A ilustração foi obtida no Google Imagens.

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Salve o negro brasileiro

Meu último post foi portador da minha confissão de impaciência e perplexidade com o quadro politico nacional nesses tempos recentes. A coisa, como pode facilmente ser constatada, saiu do controle e de forma inusitada. A sociedade está desencantada e cansada da bagunça instalada. Ninguém suporta mais a inútil polarização politica, a insegurança pública, bem como a jurídica, a sempre viva inflação e tudo mais que negue a tranquilidade nacional. Pior, ainda mais, é assistir as influências externas que estamos sofrendo no nosso dia-a-dia como poucas vezes ocorreu, ameaçando a soberania nacional e destruindo a tradicional e respeitada diplomacia forjada por Rio Branco. Mesmo considerando que o mundo “encolheu” deitado numa rede mundial de relacionamentos formais, fico pasmo com tantas guerras, desentendimentos entre povos e nações, apontando para um futuro sombrio aqui e acolá. De nada valeu, e recordo por oportuno, a esperança que reinou, no pós Segunda Grande Guerra, quando criada a Organização das Nações Unidas, hoje levada a trote e com prestigio limitadíssimo. Tempos estranhos e difíceis, no qual os aspirantes ao papel de conciliador são enxotados pelos que se aproveitam das efêmeras vantagens de passageiros dos bondes chamados de Poder. Mas, paciência... Este não é tema de pauta de hoje. Seria até redundante continuar nesta conversa. Como o desestimulo que venho enfrentando também tem limites não resisti à provocação desta semana. Estou pasmo com o recente “pronunciamento politico” do cidadão que, a maioria do eleitorado brasileiro colocou, mandando e desmandando, no Palácio do Planalto, em 2022. O dito político experiente e “pai dos pobres”, na sua “fluência arrebatadora” largou uma das suas pérolas que costumam brotar dos seus reais sentimentos (Sorocaba, interior de São Paulo, 21/08/2025), consagrando uma das suas verdadeiras visões de povo. Inacreditável. Contudo, real. “Como pode um desdentado e, ainda mais, negro compor um material publicitário do Governo Brasileiro?” Foi a dolorosa questão do Presidente da Republica tendo às suas mãos um exemplar do material, num evento politico, destinado a promover feitos do seu Governo. Mandou destruir, na hora. Manda quem pode e obedece quem tem juízo. Na declaração, o presidente chegou a perguntar a membros do governo se achavam bonito colocar um homem negro sem dentes em um material publicitário governamental.
Podia nem ser bonito mesmo, mas, não precisava frisar que era um negro. Um homem desdentado e pronto! Foi demais. Contudo, foi oportuno porque, afinal ninguém consegue enganar um povo, por todo tempo. Negar a existência de indivíduos negros no Brasil é negar às raízes da cultura nacional e ferir sem dó tantos valores intelectuais que contribuíram para a grandeza desta Nação. É negar aos milhões de eleitores que confiaram, e acreditam até hoje, num “líder” que posa de Salvador da Pátria. Ah, não! Paciência tem limites. Tomo as dores de um povo que nos trouxe e preservam, depois de séculos, valores culturais inestimáveis, não obstante pressões como esta em tela, desde suas crenças religiosas e espiritualidade criando religiões afro-brasileiras como o Candomblé e a Umbanda transformadas em legítimos sustentáculos da diversidade religiosa nacional, além de passar pela música, pela literatura, ciências e culinária. Negar a matriz cultural africana brasileira é o maior testemunho de ignorância de um individuo que não vive sem ritmos como o samba, o maracatu e a capoeira. Que não dispensa as iguarias culinárias que invadiram as mesas dos brancos, vindas das oprimidas senzalas. Chega de preconceitos! Salvemos os negros brasileiros que zelam, resistentemente, pelas suas identidades e seu orgulho de brasilidade. Foi doloroso Seu Lula!

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

PERPLEXIDADE

Busquei muito outro titulo para hoje. Nada feito. Ao contrario do que alguns pensam naturalmente que tenho acompanhado o desenrolar dos lamentáveis episódios políticos brasileiros nas últimas semanas. Por um lado a luta pelo poder caracterizada pela insana polarização partidária transvestidas pelas já batidas retóricas ideológicas. E, por outro, o envolvimento do Brasil, de modo adverso, nessa incrível Guerra Tarifária encetada pelo presidente Donald Trump dos Estados Unidos revelando, objetivamente, uma inédita movimentação comercial que ultrapassa a propalada defesa da economia norte-americana, mas, com fortíssimo teor geopolítico-econômico. Principalmente quando analisando o imbróglio com o caso brasileiro. É desanimador perceber que estamos enroscados num ambiente onde o Poder é o principal projeto de um governo ou de qualquer outro que venha se eleger. Não tenho mais idade para me iludir com promessas e mentiras eleitoreiras. Daí minha perplexidade. Entre outras coisas, procuro identificar um Projeto de Governo para o desenvolvimento socioeconômico nacional e não o encontro em parte alguma. Nem no governo de plantão ou nos discursos daqueles que aspiram ao comando. Vejo sim uma disputa de “unhas e dentes” para se aboletar na cadeira mais alta do Palácio do Planalto. Cansei dos proselitismos políticos onde só usam termos de cunhos ideológicos, muitas vezes sem saber o que dizem, quando de fato é o Poder que interessa. E a Nação está cheia de iludidos, que se contentam com Fundos Partidários e Emendas Parlamentares. Vergonhosos.
Como faz falta um líder verdadeiro, capaz de enxergar as verdadeiras necessidades nacionais. Aliás, nesses que vejo circulando, percebo que mal sabem o significado de Nação e nacionalidade. Pior é perceber claramente que usam a grife da Democracia sem, nem mesmo, saber praticá-la. A propósito disso, tem nada mais vergonhoso do que ver os três poderes da República – bases de uma verdadeira nação democrática – disputando abertamente posições de mando, cada um querendo provar que pode mais. Este não foi o Brasil prometido pelos meus ancestrais. Meu falecido pai, de modo insistente, garantia que a geração dele estava nos preparando um país de futuro feliz e farto. E eu confiava piamente. Hoje vivo em estado de perplexidade. Imagino a baita surpresa que teria meu velho se fosse possível levantar do túmulo para dar uma voltinha entre nós. Seria uma dolorosa decepção.NOTA: Ilustração obtida no Google Imagens.

sexta-feira, 27 de junho de 2025

Xote in Rock

Entre as muitas noticias e repercussões sobre os festejos juninos deste ano em Pernambuco, uma se destaca e tem meu total apoio. Refiro-me às criticas que a consagrada Elba Ramalho fez após sua recente apresentação no palco de eventos em Caruaru. Com propriedade e autoridade de quem sabe da importância da música regional, ela manifestou sua opinião sobre a “diversidade” com a qual montaram a grade de atrações deste ano. Ocorre que por manobras e estratégias politicas, além das perspectivas de faturamentos, as Prefeituras pernambucanas visando atrair grandes públicos (potenciais eleitores!) nos festejos juninos dão preferencias e pagam cachês milionários a nomes de prestígios nacionais sem levar em conta seus gêneros musicais. Resultado é que sambistas, roqueiros e sertanejos se apresentam debaixo de aplausos frenéticos, ao invés de interpretes de xotes, xaxados e baião. Forró? Ah, esse já é batido demais. Os trios de pé de serra, que faziam as festas de antanho (termo mais do que próprio) nem pensar. Quando muito, conseguem espaços nas festinhas familiares ao redor de uma fogueira e de uma mesa de acepipes de milho. Lá nos denominados pátios do forró de Caruaru ou Gravatá, por exemplos, rolam espetinhos pré-fabricados e salsichões na brasa, pipocas para não dizer que não tem milho. E muitas cervejas e cachaça. Ah! Outra curiosidade é o fato de que não aparecem mais pessoas com as tradicionais roupas de matuto... Ninguém quer mais dar pistas de uma coisa chamada de matuto. Aliás, não existe mais matuto. Atualmente as mocinhas exibem trajes moderninhos, shorts bem cavados, com partes das nádegas à mostra, botas até os joelhos e blusinhas compradas na Shopee! Quando toca um rock elas se requebram e mostram para o que vieram. Neste caso, como não tem xote, elas se remexem segurando o short. Quando se fala em dançar uma quadrilha, como no passado, correm apressadas e exibem uma rica fantasia, como se fossem desfilar na Marques de Sapucai (Rio), numa noite de carnaval. Tenha dó. Eram tão lindas as roupas caipiras. Fui um gritador e quadrilhas de primeira. Quando entrava julho naõ conseguia falar de tão rouco. Alavantu! Anariê! Olha a chuva! Choveu! Tenho criticado de modo veemente, neste espaço, as formas politizadas das promoções dos nossos festejos populares. Trata-se, na prática, duma forma moderna de distribuir “pão e circo”. Contudo, estão passando dos limites. Por oportuno, recordo que no carnaval do Recife, com a proposta de multicultural, vejo, com frequência, apresentações de indiscutíveis valores artísticos nacionais sem que, na maioria, não entendem de carnaval pernambucano. Inúmeros valores vocais locais ficam sem boas oportunidades e se contentam com palanques das periferias. Observemos que nunca se ouviu falar do Maestro Forró, Alcymar Monteiro, Santana ou Elba Ramalho, por exemplos, sendo atrações principais nos festivais de Barretos (Festa do Peão/SP) ou de Parentins (Boi Bumbá/AM). Lamentavelmente, vemos sendo apagados nossos reais valores culturais, colocando o rock no espaço do xote e do forró, sem que apareça um salvador das nossas tradições, como ocorre em todo país civilizado e ciente dos seus valores ancestrais.

sábado, 14 de junho de 2025

Comidas de Mercados

Sempre fui ligado em comidas de mercados públicos. Muitas vezes ouvi críticas por essa minha mania. Nunca tive preconceito ou medo de saborear das gastronomias populares por onde ando. E, não deixo de provar das iguarias dos mercados locais de onde vivo, no Recife. Posso garantir que não há melhor bolinho de bacalhau do que os produzidos pelo Bar e Restaurante Bragantino, no Mercado da Encruzilhada, aqui perto da minha casa. Tão bons quanto os melhores que se come em Portugal. O mesmo posso dizer do Arroz de Braga feito por lá, também. Indo a São Paulo não perco a chance de dar uma passada no Mercado Central e comer o famoso sanduiche de mortadela com um bom chope gelado. Outro Mercado Central que aprecio e onde já estive varias vezes é o de Santiago do Chile. Vale à pena explorar as delícias de frutos do mar oferecidas por lá, incluindo os filé e caldillo de Côngrio. Deliciosos. No mesmo mercado o visitante tem oportunidade de saborear a famosíssima Centolla, um caranguejo gigante de carne adocicada servido frio e inteiro. É geralmente caro. Mas vale à pena o gasto. Outro mercado, por onde andei, e não posso esquecer é o Sydney Fish Market, tido como o maior mercado de peixe do Hemisfério Sul, além de ser um famoso ponto turístico da Austrália. Ali o visitante pode saborear as iguarias mais sofisticadas de pescados, num ambiente diferenciado e atrativo. Outro mercado inesquecível é o de Coyoacan onde se pode experimentar das diversas comidas típicas mexicanas. É preciso cuidado, porém, com as dosagens de pimentas. Mexicano não dispensa de uma boa e ardida pimenta. Mas, minha ideia de falar de mercados públicos nesta postagem surgiu ao recordar das visitas a mercados quando da recente ida à Europa. Destaco dois desses, onde me deliciei de riquezas culturais e gastronômicas locais. Refiro-me ao Mercado da Ribeira, em Lisboa (Portugal) e ao Mercado de São Miguel, em Madrid (Espanha). Dois pontos preciosos e imperdíveis para quem anda fazendo turismo pela Península Ibérica. No primeiro saboreei um belíssimo bacalhau, grelhado, daqueles que somente em Portugal se come. (Foto a seguir) Numa mesa de calçadão, recebendo a brisa vinda do rio Tejo, logo à frente, numa deliciosa tarde de primavera e do modo que a vida passa e pede que os relógios parem de funcionar.
Já em Madrid, numa entrada no São Miguel, uma simples vista d´olhos faz com que as papilas gustativas se agitem e mande recados de sabor ao cérebro antes mesmo de qualquer coisa provar. Esse mercado é especializado em oferecer finger-foods, denominadas de tapas, na Espanha. São espécies de petiscos com uma infinidade de recheios preparados na hora, em cada balcão que se sucedem. Recheios de camarões, lagosta, bacalhau, especiarias diversas, presuntos, lascas de jamón (Vide foto a seguir) entre muitos outros e até caviar. Os preços são bem módicos e o cliente pode sair empanturrado. Naturalmente que boas taças de vinhos são vendidas como bom acompanhamento. As tapas são o que nós chamamos de “tira-gosto” aqui no Brasil. Depois de uma farra dessas fico desejando que nossos mercados saibam melhor explorar o nicho do turismo gastronômico com competência e, sobretudo, responsabilidade pelo produto oferecido. Sei que mercados de Belo Horizonte e Porto Alegre reúnem condições favoráveis e já oferecem bons cardápios.
Soube, outro dia, que nosso Mercado de São José, no Velho Recife, vem sendo reformado e preparado para esse tipo de atração. Tomara, mesmo porque se trata de uma bela estrutura projetada em Paris, em 1872, ao modelo do Mercado de Grenelle. (vide foto abaixo). É o mais antigo em funcionamento no Brasil. O prédio, propriamente dito, uma construção de ferro, foi trazida desmontada da, França para o Recife, no porão de um navio. A obra de montagem ficou a cargo de Louis Vauthier, francês que viveu no Recife e deixou inúmeras obras arquitetônicas, entre outras o belíssimo Teatro de Santa Isabel. Boto fé nesse projeto do nosso Mercado e já me vejo tomando caldinho de feijão com batida de maracujá, pitanga ou cajá. Comendo sarapatel com farinha, mão-de-vaca e chambaril. Buchada e caldeirada! Coxinhas de galinha e croquete de feijão. Tapioca! E, basta! Já estou satisfeito desde já. Simbora! (Vide foto do mercado abaixo) NOTA: fotos do Blogueiro e do Google Imagens.

Como antigamente

“Olha só, como antigamente!” foi essa a expressão da turista, por mim ciceroneada, quando circulando pelo Recife, há poucos dias. Referia-se...